quarta-feira, 4 de junho de 2008

Chatos dos tweens

«De acordo com o estudo realizado em finais de 2007, esta nova geração de tweens (entre a infância e a adolescência) revela preocupações de poupança e planeamento surpreendentes. As respostas levam os autores do estudo a concluir que esta nova geração, em regra mais informada e selectiva, representa uma "mudança de paradigma", assumindo uma "tendência contrária ao endividamento nacional dos anos mais recentes".» In DN, 03/06/08

- João, anda cá, senta-te aqui. Eu e a tua mãe queremos contar-te uma coisa.
Nós estivemos a pensar... Tu estás a crescer, precisas de espaço para brincar ao ar livre, de um quarto maior, de um sítio para nadar... O que é que tu achas de comprarmos uma casa nova?
- O quê?! Uma casa só nossa?
- Sim!
- Com vista para o mar?
- Sim!
- Com jardim, piscina e um cão?
- Sim!
- Mas vocês estão malucos?!
- Então, João?!
- Vocês não leem jornais, não veem as notícias?
- Sim, mas...
- E as taxas de juro sempre a aumentar?
- Agora até pararam um bocadinho.
- E o preço dos alimentos sempre a subir?
- Sim, mas...
- E a gasolina?
- Realmente anda complicado...
- E as portagens?
- Quer dizer...
- E a crise?
- Bom... se calhar não tinhamos pensado bem no assunto...
- Ahhhhhhhhh

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Esse Cubano do Contenent


«Cristóvão Colombo era português, e de Cuba?»
In Público, 23/05/08

Cristóvão vestia de preto e tinha bigode, como os irmãos Vitorino e Janita, e conduzia habitualmente uma Zundap. Deixou Portugal por causa de Mercedes, uma jovem de Badajoz, terra onde os caramelos também eram bons e o petroil mai barato. Tirou o curso de navegador em regime pós-laboral, enquanto trabalhava numa taberna de tapas. Conheceu os reis católicos no baptizado de uma prima e, entre a canjinha e a paella, com ajuda de uns copos de cidra, lá os convenceu a financiarem o seu projecto de chegar às índias por ocidente. Sabe-se que não zarpou enquanto a embarcação não foi toda caiadinha e levou uma risca azul marinho em redor do convés. Os diários de bordo, para além de indicarem “Açorda”, “Queijo de Niza” e “Porco preto” como habituais no menu, têm passagens que confirmam a nacionalidade portuguesa. “Vamos andando, quando mal nunca pior” e “Haja saudinha” podem ler-se 58 e 67 vezes respectivamente. É sabido também que, na sua paragem na ilha da Madeira, Cristóvão conheceu uma personagem bizarra de nome Alberto, com estranho sotaque, barriga proeminente e boca descarada, que terá baptizado o capitão com epiteto que, também ele, corrobora a tese da portugalidade.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Das estrelas pra onde eu regresso


«Astronáutica atrai muitos portugueses»
In Global, 16/05/08

Não me surpreende. Os portugueses são, no fundo, astronautas. De terra, como as hospedeiras pobrezinhas, mas astronautas. Por estarem habituados a ficar a ver estrelas cada vez que põem gasolina, os portugueses estão mais que habilitado a praticar a Astronáutica.
Mas depois há personalidades, que pelas suas características naturais ou actividades diárias, ganham vantagem na provas de selecção e garantem um melhor desempenho da função de navegadores dos astros. Eis alguns nomes com fortes possibilidades de integrarem o contingente português da Agência Espacial Europeia.
Por estar no mundo da lua quando previu que a economia portuguesa crescesse 2,2 % este ano (e ter sido agora obrigado a rever o número para 1,5%), o ministro das finanças Teixeira dos Santos afigura-se como sério candidato a dar pinotes e cambalhotas no ar, em câmara lenta como na tv.
Por estar com a cabeça (e o corpo) no ar ao fumar os seus cigarritos num voo onde o mesmo é proibido em virtude de uma lei criada pelo seu governo, Sócras está também bem lançado para fazer jogging extra-terrestre.
Por ser ele próprio verde e pequenino, e gerar empatia com o nativo de Marte, João Moutinho tem também fortes hipóteses de ser convocado.
E por fim, por realmente não parecer deste mundo, ter aplicado o rock sinfónico a uma viagem sideral, ter vestido o casaco mais espacial da história do festival RTP da canção e se afirmar como natural das estrelas, José Cid, está, com toda a justiça, na pole-position dos astronautas tugas.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Para a próxima já sei

«Mário Machado diz estar arrependido de alguns actos»
In Diário Digital, 13/05/08

Estou arrependido de ter comprado carcaças. Para o próxima compro pão de mistura, que é mais saudável.
Estou arrependido de ter comido feijoada ao almoço. Já devia ter aprendido...
Estou arrependido de tomar 3 cafés por dia. Eu sou uma pessoa calma, é a cafeína que me põe assim.
Estou arrependido de não ter adquirido aquele tubo de escape portentoso e o fantástico subwoofer. Estavam a um preço tão jeitoso....
Estou arrependido deste penteado. Pensava que vinha aí o Verão e afinal ainda faz uma aragem.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Pobres dos ricos



«Partido sem dinheiro para pagar multa do processo Somage
Bancos não dão crédito ao PSD e situação é “muito delicada”»
In Público, 04/05/08

Podem fazer como muitos portugueses – e nesse sentido sentir o país real e as necessidades e problemas do eleitorado – e contrair um daqueles créditos para pagar os outros créditos, a taxas de juro pequeninas pequeninas, simples e rápido, tipo “ligue já e já está, ninguém quer saber se foi ministra das finanças e não consertou o déficit, se foi PM sem saber como nem porquê, ou se foi jovem até aos 40”.
Também podem arranjar part-times. A ex-ministra na Loja das Sopas, o ex-PM como hospedeira na FIL e o ex-jovem como motoqueiro entregador de pizza, por exemplo.
Podem jogar na raspadinha ou no euromilhões. Ou ir à televisão.
A ex-ministra das finanças, que também é ex-ministra da educação, podia ir à RTP pedir ajuda aos petizes nos problemas de aritmética, para inevitalmente concluir em close-up, envergonhada: “Eu não sei mais que um miúdo de 10 anos”.
O ex-PM, que sabe da comunicação e do contacto com as massas, pode ir ao programa da tarde da TVI, onde com a sua voz aguda de sirene dos bombeiros, Júlia Pinheiro anunciaria ao país: “Srs telespectadores, esta tarde temos aqui uma história sofrida, um caso de heroísmo, um exemplo de vida. Uma salva de palmas, por favor, para o menino guerreiro”. Solidários e de lágrima ao canto do olho, donas de casa, reformados e até alguns desempregados deprimidos, contribuiríam com alguns euros da sua pensão ou subsídio, para o NIB do menino, que passaria em rodapé.
E o ex-Jota, da quase-juventude dos seus 44 anos, podia candidatar-se ao próximo casting dos Morangos com Açúcar ou da próxima novela produzida pela Teresa Guilherme para a SIC. Com o seu ar teenager e a sua postura irreverente, facilmente daria um bad boy do colégio dos navegantes “Para mim tanto me faaaaaaaaaaz, que digas coisas boas ou coisas mááááááás” ou uma cantante babysitter em busca do seu príncipe “Não tenho nada, mais tenho tenho tudo, sou rica em sonhos e pobre pobre em ouro. Mas não me importa pois só por ter dinheiro, não compro amigos, estrelas, o amor verdadeirooooooooooo!”.
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sexta-feira, 2 de maio de 2008

Presidente, administrador e dono


«“Eu fazia tudo o que ele mandava”, afirmou José Faria, antigo colaborador de Ferreira Torres.» In DN, 01/05/08

- Zé, apetecia-me algo.
- O quê senhor?
- Não sei, o que eu queria era algo... bom...
- Tomei a liberdade de pensar nisso.
- Oh Zé, um bombom amaricado com pratinha dourada?! Não, nada disso. O que eu quero é uma pinhoada!
- Uma pinhoada, senhor? Eu já nem sei onde isso se vende...
- Uma pinhoada, pois. Vai aos cafés, às feiras, às vendedoras de rua, mas traz-me uma pinhoada!

- Zé, apetecia-me algo.
- Tomei a liberdade de pensar nisso.
- Uma pinhoada? Não, hoje não quero disso. É duro, pega-se aos dentes, dá-me cabo da placa... Hoje apetecia-me ver assim um show musical, assim uma coisa em play back, com maquilhagem excessiva e plumas...
- Mas onde é que eu vou arranjar isso assim de repente?
- Não sei, procura. É pra isso que te pago!

- Zé, apetecia-me algo.
- Tomei a liberdade de pensar nisso.
- A Belle Dominic?! Não, Zé, não é nada disso! Estava a pensar mais uma coisa do género comprar barato e vender caro.
- Tou tramado...
- Ai ai ai ai, não me queres ver irritado, pois não?

sábado, 26 de abril de 2008

Lo unico a gustar de Portugal?


“'El Solitario' pede para regressar já a Portugal numa carta enviada à sua advogada portuguesa”, in DN, 26/04/08

Cara advogada

Estoy escrebiendo esta cartita para dizer-te que estoy fartito de Espianhia e morriendo de saudades de Portugal. Es una pena que los portugueses no compreendan todas las cositas buenas que tienen en su precioso pays.
Por empeçar, echo de menos las estaciones de serviço, donde la gasolina es carita si, pero es muy agreable parar, tomar una bica, comer un rissolito y seguir assaltando personas incautas.
Lo cinema tambien es fantastico en Portugal. No lo cinema portugues, claro, pero lo americano si. Estoy enamorado por la voz grave e lo accent de patatas quientes de Sean Connery. Ayer pensava que lo Sean havia nascido en Andalusia, pero no.
Tambien echo de menos los grandes armazens de la rua António Augusto Aguiar en Lisboa, su supermercado, sus empanadas, sus trapitos, sua selection musical con Enrique Iglésias, pan pipes, canto gregoriano y outros tanto artistas marabilhosos.
Despues, las personas hablan mui de espacito, es mas facil comprender y assaltar un portugues, preferivelmente alentejano, que un espanol hablador y nerbosito.
Tambien me gusta lo Sócrates mehor que lo Zapatero. És muy charmoso con su look grisalho e muy modierno con su mania de lo jogging. Y habla espanhiol tan bien como yo!
Y la guarda, si no estibermos hablando de la EMEL, es mui simpatica e amigabel.
Quiero regressar.

Jaime Giménez Arbe, aka El Solitário

terça-feira, 22 de abril de 2008

Dentro do mal, há pior

“Joe Berardo quer falar com Vieira sobre desgraças”
in DN, 15/04/08

- Tou, Luís Filipe?
- Sim
- É o Joe.
- Ah, Joe, então tudo bem?
- Tudo bem? Achas que está tudo bem?
- Não, eu sei que não... É uma expressão.
- Tá tudo uma desgraça. E era precisamente sobre desgraças que eu te queria falar.
- Ah... pois, isto da violência no Tibete é um atentado contra os direitos humanos e a comunidade internacional devia fazer alguma coisa. Eu já assinei a petição na net...
- Ó Luís Filipe, tás parvo ou quê? Com a nossa desgraça aqui tão perto e tu falas-me no Tibete...?
- Ah... estás a falar do desemprego e da economia nacionais... pois, eu bem digo aos meus filhos para pouparem, nunca se sabe o dia de amanhã, as taxas de juro estão sempre a aumentar e os bancos querem é sacar o deles...
- Olha lá, mas tu não percebes que a desgraça começa em casa. Em casa, pá!
- Ahhh, deves estar a falar do caso Esmeralda. Coitadinha da miuda, anda ali, vai não vai, com os pais que a acolheram de um lado e os pais biológicos do outro. Isto não pode fazer bem a uma criança...
- Ó homem, mas tu caiste e bateste com a cabeça, ou quê? Tu sabes quem és? Como te chamas?
- Luís Filipe. Aaaaaaaahhhh, estás a falar do PSD, da demissão do gajo de Gaia e da crise instalada. Olha, a Ferreira Leite já avançou. Sinceramente pá, eu acho que pior não pode ficar...
- Olha, eu também não!
- Tou, Joe? Joe?
Olha..., desligou.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Eu confio nos Centros de Inspecção

“Porque ninguém melhor do que nós lhe oferece a garantia de confiança absoluta, pomos ao seu dispor toda a comodidade e conveniência, para que fique tranquilo quanto à inspecção do seu veículo.” In postal do Centro de Inspecção Automóvel

Homens a ler o jornal, a fumar cigarros, a discutir a bola, a limpar os carros, a colocar água ou óleo nos devidos compartimentos e a fazerem outras tarefas de homem, enquanto esperam pela indicação da matrícula do seu veículo automóvel no placard electrónico. Lá dentro, motores a um nível apreciável de rotações, escapes a esfumaçar, vozes graves que gritam, chiar de travões, carros a chocalhar.
O Centro de Inspecções é capaz de ser o que muito boa gente amante de carros, velocidade e barulho, considera o céu. Para muita alma que aí anda a coisa deveria ser mais ou menos assim. O pessoal morria e seguia de carro para o Centro de Inspecções de Almas e Automóveis. Num grande pavilhão cheio de aparelhómetros estranhos, São Pedro, o Diabo e ocasionalmente Jesus, de bata de mecânico com um logo dos anos 70 nas costas, submeteriam os veículos das mais variadas cilidradas e os espíritos das mais variadas experiências aos mais completos testes. Frenómetro para o primeiro, pecadómetro para o segundo, teste às luzes do primeiro, exame às tentações do segundo, e por aí fora... No final, Pedro, de esferográfica na santa orelha, aproximar-se-ía e diria qualquer coisa como “O seu veículo está ok, só precisa de substituir as escovas do limpa pára-brisas. Já a sua alma está a libertar gases nocivos superiores ao aceitável e precisa urgentemente de um jogo novo de boas acções. Tem 15 dias para tratar disso, volte cá depois para ver se está tudo bem.” E no entretanto veículo e alma andariam para ali numa estrada nacional 1, o equivalente a um purgatório, até conquistarem o direito ao selo de aprovado...
Para mim, que não sou amante de carros, velocidade ou barulho, o Centro de Inspecções é um sítio curioso, onde se registam das maiores concentrações de testosterona por m2. Quando uma mulher por ali passa, corre sérios riscos de sair grávida ou camionista. Resta-me esperar uns dias para ver se me nasce, sob os pés, um camião TIR com luzes de natal e um poster da Samantha Fox, ou se dá positivo o teste da Predictor.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Orgulho e Preconceito

"Nunca me considerei racista. Não tenho qualquer ódio primário à raça negra, mas tenho orgulho em ser branco", assegurou hoje Mário Machado, ouvido no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, onde responde com 35 outros arguidos por acusações de crimes de discriminação racial, posse ilegal de armas, distribuição de propaganda nazi, entre outros delitos. in Público, 09/04/08

Na saudosa série Rua Sésamo havia muitas coisas curiosas. Havia uma Alexandra Lencastre novíssima, um Vítor Norte carpinteiro, um monstro das bolachas comilão, um conde drácula que carregava nos r’s, um joão esquecido que chagava a molécula à amiga, um egas e um becas que estavam sempre a discutir, um popas chato como a potassa, and so on, and so on...
Havia também uma vaca que cantava ter orgulho em ser isso mesmo, uma vaca. Não uma vaca leiteira. Não uma vaca charolesa. Não barrosã. Não uma vaca suiça. Não uma vaca açoriana. Uma vaca, apenas. Para que os humanos ponham os olhos nesta lição bovina de afirmação, dignidade, paz e tolerância, aqui fica.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Se era pra isto, não me convidavam


“Catorze membros de uma seita ortodoxa russa entrincheirados há 5 meses num abrigo subterrâneo, à espera do fim do mundo, abandonaram o refúgio, onde estão outros 14”
in Global, 02/04/08

Ó Kuznetsov, então nunca mais?! O fim dos tempos tá próximo, isto é coisa pra três 15 dias, no máximo, dizias tu, e vai-se a ver já lá vai quase meio ano... Achas bem? Temos a vida toda empatada por tua causa! Os miúdos já perderam o ano e a Axana que tinha um trabalho tão jeitoso e o patrão nem era mau... Agora o mundo não acabando, com esta crise quero ver quem nos arranja trabalho. Já devo ter o banco à perna por causa do atraso nas prestações. E está quase a terminar a primeira fase de entrega do IRS. Cá pra mim ainda vou ter de pagar multa... Saíste-me melhor que a encomenda, ó profeta da tanga! Ainda por cima estamos praqui fechados num buraco sem tv cabo, ó o caraças! Não sei quanto tempo mais consigo ver a Tertúlie Cor de Rosev e as Tardevs da Júlia. E batatas fritas como eu em casa!

terça-feira, 25 de março de 2008

Reféns electrónicos

Gabinete de Atendimento das Finanças.
Ao meu lado, uma conversa sobre uma senha electrónica perdida:

- Vamos lá ver se a senha lhe chega a tempo... Demora, no mínimo, 5 dias úteis.
- Então o que é que eu posso fazer?
- Olhe, reze. Para que a senha lhe chegue a tempo... Bom, aqui no computador tenho uma pergunta de segurança. Sem responder não podemos dar-lhe a sua senha. A pergunta é: “Qual é a sua série televisiva preferida?”
- (silêncio)
- Esta pergunta não é fácil. Podia ter escolhido outra. A minha é sobre cores, por exemplo, é mais fácil...
- Mas eu não fiz nada disso, não escolhi pergunta nenhuma.
- Mas a pergunta está aqui! Se não responder não conseguimos fazer nada.
- Eu sei lá...
- Pois, é um bocado vago. Pode ser qualquer coisa, de agora ou mais antigo... Só se for tentando, escrevendo nomes de séries, sei lá.
- Tou tramado... Não me pode dar uma pista?
- Eu não! Se fosse cores era mais fácil...

quinta-feira, 6 de março de 2008

História de Portugal com ASAE

“Os excessos da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) foram, ontem, admitidos pelo socialista Jorge Seguro.” in DN, 06/03/08

Agosto de 1385, sete soldados fogem do campo de batalha e escondem-se numa casa vazia que serve de padaria. Quando encontra os inimigos castelhanos encolhidos no seu forno, Brites de Almeida defende-se a si e à pátria com monumentais pazadas. A vizinha do lado ainda lhe grita “Olha a ASAE, mulher!”, mas a padeira, cega de patriotismo, quer lá saber. No dia seguinte Brites é detida e o seu negócio fechado, qual proprietária da ginginha do Rossio.
Séc. XIV, manhã de Inverno, uma bondosa rainha enche o regaço do seu vestido com pães, para os distribuir pelos pobres. Ao ser surpreendida pelo rei, que lhe pergunta onde vai e que leva no regaço, a rainha responde “São rosas, Senhor!” e transforma os artigos de panificação em cheirosas flores. O soberano fica a braços com uma crise. O 24 horas medieval noticia o grave incumprimento das normas de higiene e segurança alimentar. E a oposição aproveita o episódio para gerar polémica. Para dar o exemplo, o rei é obrigado a mandar a esposa para o exílio. Mas a rainha isabel não se livra do cog-nome “a badalhoca”.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Agora Escolha


“Adam Savage and Jamie Hyneman, os Caçadores de Mitos do Discovery Channel, decidiram tentar comprovar a fiabilidade das experiências de MacGyver, para assinalar o centésimo episódio do programa.” in DN, 24-02-08

Se excluirmos a fadista Mariza, o MacGyver é, para mim, a única pessoa capaz de conduzir os destinos da nação ou, como vulgarmente se diz, “fazer este país andar para a frente”.
Proponho portanto que o façam regressar à televisão portuguesa, numa nova série em que a sua missão seria resolver os problemas do país. Ao início de cada tarde, os portugueses poderiam escolher entre 2 episódios no também regressado programa “Agora Escolha”. A inigualável Vera Roquette dar-nos-ía a escolher: “No Bloco A, MacGyver faz a reforma da saúde recorrendo apenas a uma gilette, ao Sr primeiro ministro e ao DVD da primeira série de Dr. House. No Bloco B, veja como MacGyver põe fim à crise da educação, munindo-se tão somente de um canivete suíço, um Bolicao e um CD dos Morangos com Açúcar”.
E enquanto votavamos assistiríamos a mais um episódio da Ana dos Cabelos Ruivos, claro.

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Uma questão de confiança

"O indicador de clima económico estabilizou em Fevereiro, mas a confiança dos consumidores caiu para mínimos desde meados de 2003, revela Inquérito de Conjuntura do INE para este mês.” in Diário Digital, 29-02-08

O Sr. Januário sai de casa com chapéu porque não acredita no boletim meteorológico. A D. Adelina gosta de iogurtes com pedaços mas desconfia dos prazos de validade. A Marta gostava de ter mais canais de televisão mas não quer ser cliente da TV Cabo. O Manuel precisa de arranjar trabalho mas gato escaldado de água fria tem medo. O Pedro gostava de votar em alguém mas nenhum dos candidatos o convence. A Sra. Maria até fazia um Super Aforro Millennium BCP mas são todos uns vigaristas. A Inês queria medir a febre mas não confia nos termómetros digitais. O Zé gosta da Tânia mas não consegue convidá-la para sair.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Parlamento meets Big Brother

“A RTP1 estreia hoje o programa de debate político Corredor do Poder. Conta com um painel fixo de cinco comentadores e um convidado, moderados pela jornalista Sandra Sousa. Um detalhe: as câmaras estarão ocultas, à excepção de uma.O objectivo é "tornar o debate mais espontâneo, embora as pessoas saibam que estão na televisão", explicou José Alberto de Carvalho.” in DN, 28-02-08

Introduzir um elemento de surpresa e voyeurismo pode bem ser uma das últimas armas que leva o português médio, cansado, dormente, mal pago e quase-desempregado a ver um debate político na TV.
Mas onde estarão as câmaras do Corredor do Poder? No fundo dos copos de água, proporcionando aos telespectadores uma visão inédita da dentição, língua e amígdalas da classe política? No tecto, apresentando planos picados das cabeleiras e carecas do painel? Debaixo da mesa, possibilitando o visionamento de alianças improváveis e a descoberta de romance entre poder e oposição?
Melhor que isto, só mesmo pondo políticos numa casa em que se sujeitassem às regras, humores e patifarias de um mestre anónimo, comandado pelos sms do povo em geral e dos espectadores da TVI em particular. Ah, espera lá, isso já foi feito. E o Avelino Ferreira Torres foi dos primeiros a sair.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O pão nosso de cada dia


“Confirmando previsões, o preço do trigo continua a subir, tendo atingido um novo recorde nos últimos dias - 12 dólares (7,96 euros) por alqueire. A retracção na oferta e baixas reservas explicam esta subida nas bolsas. Em Portugal, a indústria de panificação diz que não aguentará sem aumentar o preço do pão. Na ordem dos 50 por cento, para poder sobreviver.” In Público, 27-02-08

Com os campos abandonados, as reservas mundiais nos seus níveis mínimos e a especulação bolsista que não olha a meios nem matérias para fazer algum, impõe-se a actualização de todo um conjunto de crenças e valores.
Por exemplo, “Estar a pão e água” faz mais sentido passar a ser “Estar a europopanças do McDonalds”. “Pão pão, queijo queijo”, expressão utilizada para designar pessoa franca, directa, sem papas na língua, dá lugar naturalmente a “Bimbo, Bimbo, sucedâneo de queijo, sucedâneo de queijo”. E “Não há pão pra malucos” é evidentemente substituído por “Não há pão”.
E porque esta crise afecta todos, até as festas de beneficência descritas pela Susaninha dos livros da Mafalda, em que a gente rica se reune a banquetear para poder comprar carcaças para os desfavorecidos, terão de ser repensadas.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Bamos ao Shopping?

“A intenção da Câmara do Porto de concessionar, por 50 anos, o Mercado do Bolhão aos holandeses da TramCroNe (TCN) instalou a polémica entre comerciantes e associações cívicas que tentam interpor uma providência cautelar para impedir o início das obras. Mas se estas contestam, categoricamente, a proposta aprovada pelo executivo de Rui Rio, os comerciantes estão divididos. Uns apoiam a transformação radical do interior do imóvel, defendendo uma espécie de centro comercial onde coabite o mercado tradicional, outros recusam tal intenção.”
in DN, 25-02-08

Para que, pelo menos o espírito se mantenha, são necessárias algumas salvaguardas. Primeiro, a toponímia do centro comercial deve submeter-se à temática “espécies de peixe”. Rua da Faneca, Praça Peixe Espada Preto, Alameda do Besugo são algumas boas hipóteses. Segundo, a abordagem comercial, com o uso do pregão e do vernáculo habituais, deve ser mantida independentemente da marca ou do produto em causa. “Ó freguesa, olhe pra este Big Mac, que categoria! Não encontra mais fresquinho!” e “Olhá cigana da Rituals! Vá lá ver, é tudo a cinco aéreos!” constam do manual de acolhimento e constituem um exemplo a seguir. Terceiro, uma vez por dia passa nos altifalantes do espaço a marcha do FCP, momento que assinala uma happy hour de frutas e legumes, com especial destaque para secção da exótica “fruta para dormir”. Quarto e último, a música ambiente deve ser constituída pelos grandes nomes da canção popular, cujos temas convidam à compra, à dança e à rambóia. Quim Barreiros, Emanuel, Toy e Tony Carreira são grandes clássicos com presença assegurada na playlist. Mas para encantar a audiência versátil e melómana, nomes como os Moloko também vão constar.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

É por aqui?

“Emmanuele Jannini, da Universidade de L"Aquila, e a sua equipa, que vão publicar os seus resultados na próxima edição (de Março) do Journal of Sexual Medicine, fizeram ecografias com sonda vaginal a 20 mulheres, das quais apenas nove diziam ter orgasmos vaginais. E descobriram que essas nove mulheres apresentavam uma maior espessura do tecido situado entre a uretra e a vagina do que as outras. "Pela primeira vez", disse Jannini à revista New Scientist, torna-se possível determinar de maneira simples, rápida e barata se uma mulher tem ou não um ponto G."
In Público 21.02.08

Dr. Caldeira Nunes, médico da Sra Albertina no Centro de Saúde, ou para ser mais realista no Hospital Central a centenas de kms de sua casa, ou então melhor ainda na ambulância do INEM, de papel e esferográfica na mão: “Ora bem então são... análises ao sangue, análises à urina, o electrocardiograma, a mamografia para ver se está tudo bem (já sabe tem de fazer todos os anos) e a ecografia por causa do ponto G. A Sra Albertina tem orgasmos?”
Ao que a Sr. Albertina responde: “Não Shô Doutor, tenho ADSE...”
Simples, rápida e barata a coisa só será quando se vender o equipamento na TV Shop ou no catálogo e na loja D-mail. “G-Tronix é o fantástico kit completo para encontrar o Ponto G. Aerodinâmico e portátil, inclui sonda vaginal, mapa do tesouro e capacete de mineiro. E para os primeiros 100 interessados, grátis a oferta de cabo USB para ligar ao monitor. Ligue já!”

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

A tua é maior que a minha

“Francisco Louçã surpreendera o plenário ao mostrar um poster de um gestor e a fotografia tipo passe de um trabalhador como forma de ilustrar um fosso salarial que atinge neste momento as 32 vezes.” in DN 22.02.08

E se ao volume salarial do gestor correspondesse não o tamanho da sua foto mas... da sua cabeça.
O Sr. Super Gestor acorda de manhã e é cabeçudo. Quando se ergue da cama, cai para a frente desgovernado em virtude do peso da sua cabeça de dezenas de milhares de euros mensais. Só sair do quarto é um problema. Despir o pijama e vestir qq coisa, impossível! E como vai ele entrar no seu Audi? Só se for pelo tejadilho, pois sempre tem tecto de abrir. Mas depois tem de ir todo o caminho com a cabeça de fora, tipo cão, com o vento a levantar-lhe as pálpebras e os ramos de árvores a limparem-lhe o pó à careca. Ao chegar ao edifício da sede do banco, o seu fiel assistente pessoal tem de mandar chamar uma equipa de trolhas para, à sua frente, derrubar parede por parede e aumentar a largura das portas. Enquanto espera e vê a mulher da limpeza ocultar o riso de gozo atrás da TV7 dias, o Sr. Super Gestor pensa “bom, podia ser pior...”.

É a cultura, estúpido!

“A Associação de Bares da Zona Histórica do Porto desafiou os associados a transformarem as suas empresas em associações culturais e recreativas, onde a lei do tabaco é omissa relativamente à proibição de fumar.” in Público, 21.02.08

Tal como uma bica passa a duas, neste caso um cimbalino a dois, a Discoteca Indústria passa a Clube Recreativo “Os unidos da Indústria”!
Já estou a ver o Barbosa e o Teixeira a rumarem até à Indústria, perdão, até ao Clube Recreativo “Os unidos da Indústria” para dois dedos de conversa e meia-dúzia de copos de 3. E a malta mais nova do bairro, os miúdos do tunning e dos rotwaillers, a aparecerem para uma partida de snooker e uma grade de minis bem fresquinhas, a preço de amigo que só encontra concorrência na sede do PCP.
Às 4ªs há noites de fado vadio com a presença do ilustre Fánan, acompanhado à guitarra por Beto Dedinhos e à viola por Tozé Ribeiro. Às 3as e 5as há aulas de ginástica de manutenção pela Professora Lizete, cabeleireira no salão com mesmo nome e rainha da madeixa e da extensão. E às 6ªs há ensaio do rancho, o ex-libris do clube.
O rancho da Indústria, perdão, do Clube Recreativo “Os Unidos da Indústria” inspira-se na estética, nas vivências e no cancioneiro popular do operariado metalúrgico e metalomecânico. Nas suas actuações ao vivo, os elementos, de fato macaco e capacete, recriam momentos de trabalho e de convívio dos operários, em temas como “Tuntz tuntz” e “Não não, não não não não, não não não não, não não, não há limites”.
O Aniki Bobó, por seu lado, passa a Associação Desportiva e Cultural “Os amigos do... Manoel de Oliveira”.
E claro, toda a gente fuma onde quiser.